segunda-feira, 23 de maio de 2016

Caminhos para entrar na vida eterna

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da IgrejaSermão sobre o diabo tentador 


Quereis que vos indique os caminhos da conversão? São numerosos, variados e diferentes, mas todos conduzem ao céu. O primeiro caminho da conversão é a condenação das nossas faltas. «Aviva a tua memória, entremos em juízo; fala para te justificares!» (Is 43,26). É por isso que o profeta observava: «Eu disse: "Confessarei os meus erros ao Senhor"; e Vós perdoastes a culpa do meu pecado» (Sl 31,5). Condena pois, tu próprio, as faltas que cometeste, e tal será suficiente para que o Senhor te atenda. Com efeito, aquele que condena as suas faltas tem a vantagem de recear tornar a cair nelas. [...] 

Há um segundo caminho, não inferior ao referido, que é o de não guardar rancor aos nossos inimigos e dominar a cólera para perdoar as ofensas dos nossos companheiros, porque assim obteremos o perdão das que nós cometemos contra o Mestre; é a segunda maneira de obter a purificação das nossas faltas, «porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós» (Mt 6,14). 

Queres conhecer o terceiro caminho da conversão? É a oração fervorosa e perseverante que fizeres do fundo do coração. [...] O quarto caminho é a esmola, que tem uma força considerável e indizível. [...] Em seguida, a modéstia e a humildade não são meios inferiores para destruir os pecados pela raiz; temos como prova disso o publicano, que não podia proclamar boas acções, mas as substituiu pela oferta da sua humildade, entregando assim o pesado fardo das suas faltas (Lc 18,9s). 

Acabamos de indicar cinco caminhos de conversão. [...] Não fiques pois inativo, mas em cada dia utiliza todos estes caminhos. São caminhos fáceis, e não podes apresentar a tua miséria como desculpa para os não percorreres.

Fonte: Evangelho Cotidiano

quarta-feira, 11 de maio de 2016

A Oração - São Clemente de Alexandria

São Clemente de Alexandria (150-c. 215), teólogo 
«Stromata» 7,7


«Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.»


É nosso dever venerar e honrar Aquele que acreditamos ser o Verbo, nosso Salvador e nosso Senhor, e, por Ele, o Pai, não em certos dias especiais (tal como outros fazem) mas continuamente, durante toda a nossa vida e de todas as formas. «Sete vezes por dia cantei o teu louvor» (Sl 118,164), exclama o povo eleito. [...] Por isso, não é num lugar determinado, nem num templo escolhido, nem em certas festas ou em certos dias fixos, mas é durante toda a vida e em toda a parte que o homem verdadeiramente espiritual honra a Deus, isto é, dá graças por conhecer a verdadeira vida. 

A presença do homem de bem, pelo respeito que inspira, torna sempre melhor quem com ele convive. Quanto mais aquele que está continuamente na presença de Deus, pelo conhecimento, pela maneira de viver e pela acção de graças, se irá tornando cada dia melhor em tudo: acções, palavras e disposições! [...] Vivendo, pois, toda a nossa vida como uma festa, na certeza de que Deus está totalmente presente em toda a parte, trabalhamos cantando, navegamos ao som de hinos e comportamo-nos à maneira dos «cidadãos do céu» (Fl 3,20). 

A oração é, ouso dizê-lo, uma conversa íntima com Deus. Mesmo quando murmuramos suavemente, mesmo quando, sem mexer os lábios, falamos em silêncio, estamos a gritar interiormente. E Deus volta constantemente o seu ouvido para esta voz interior. [...] Sim, o homem verdadeiramente espiritual ora durante toda a sua vida, porque orar é para ele um esforço de união com Deus, e rejeita tudo o que é inútil porque atingiu aquele estado em que já recebeu, de certa maneira, a perfeição, que consiste em agir por amor. [...] Toda a sua vida é uma liturgia sagrada.

Fonte: Evangelho Cotidiano