sexta-feira, 28 de maio de 2010

Como defender a fé no século 21?

Cardeal Levada responde com novas perspectivas para a apologética cristã

Por Carmen Elena Villa
ROMA, segunda-feira, 3 de maio de 2010 (ZENIT.org).- A defesa da fé não pode ser "muito defensiva nem muito agressiva". Deve se fazer com "cortesia e respeito" e sobretudo com o testemunho pessoal.
Foi o que explicou nessa quinta-feira o cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, no congresso "Uma apologética para um novo milênio", concluído na sexta-feira na Universidade Ateneu Regina Apostolorum em Roma. O purpurado interveio com uma conferência denominada "A urgência de uma nova apologética para a Igreja do século XXI".
O cardeal recordou como os antigos apologistas "dedicaram-se fundamentalmente a obter a tolerância civil para a comunidade cristã, para demonstrar que os cristãos não eram mal-feitores que mereciam a pena de morte".
Depois de fazer um breve percurso pela defesa da fé na história da Igreja, o prefeito explicou como a constituição Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, "desenvolve a revelação desde seu centro cristológico, para depois apresentar a responsabilidade iniludível da razão humana como uma dimensão da totalidade".
"Mostra que a relação humana do homem para Deus não consta de duas partes mais ou menos independentes, mas é uma parte indivisível", disse. "Não há tal coisa como uma religião natural em si mesma, mas cada religião é ‘positiva', ainda que por sua positividade não exclui a responsabilidade do pensamento, mas a inclui".
"Como se deveria apresentar uma nova apologética?", questionou o cardeal. "Fé e razão, credibilidade e verdade são exploradas como fundamentos necessários para a fé católica cristã".
Ele disse que a fé, conservando sempre sua essência, deve-se apresentar de uma maneira renovada "quando tem de enfrentar novas situações, novas gerações, novas culturas".
Beleza
Também assegurou que a apologética do novo milênio "deve-se enfocar na beleza da criação de Deus".
"Para que a apologética seja credível - disse - devemos dar especial atenção ao mistério e à beleza do culto católico, da visão sacramental do mundo que nos permite reconhecer e valorizar a beleza da criação como um preâmbulo do novo céu e da terra nova vislumbrados no segundo livro de Pedro e no Apocalipse".
O cardeal Levada recordou as palavras do Papa Bento XVI no encontro com o clero da diocese de Bolzano-Bressanone durante sua visita aos EUA: "a arte e os santos são os maiores apologistas para nossa fé".
Ele disse também que o mais importante é "o testemunho de nossas vidas como crentes que colocamos nossa fé em prática, trabalhando pela justiça e a caridade, como seguidores que imitamos Jesus, nosso mestre".
Assegurou ainda que unir a visão de verdade, justiça e caridade "é essencial para garantir que o testemunho e a ação não são algo passageiro, mas podem dar uma contribuição duradoura para a criação da civilização do amor".
Ambiente de diálogo
O prefeito de Doutrina da Fé disse que na cultura atual é necessário um diálogo sobre "o significado e o propósito da liberdade humana". Assinalou também como uma nova apologética "deve ter em conta o contexto ecumênico e inter-religioso de qualquer diálogo sobre a fé religiosa em um mundo secular".
O purpurado disse que há a necessidade de criar um diálogo "com a ciência e a tecnologia". Ainda que muitos cientistas falem de sua fé pessoal, "no entanto, a face pública da ciência é decididamente agnóstica".
"Seguramente, o novo milênio oferecerá novas oportunidades para expandir esta dimensão chave do diálogo entre fé e a razão", disse, e assegurou que entre as perguntas que agora requerem maior atenção "estão a da evolução na relação com a doutrina da criação".
O purpurado concluiu sua conferência assegurando que a apologética do século XXI não pode ser vista como uma "missão impossível" e disse que em uma sociedade agnóstica, uma condição essencial para que haja verdadeiro diálogo é o "desejo de conhecer o outro na plenitude de sua humanidade".

Fonte: Zenit

quinta-feira, 20 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Para os petistas que me mandam ler

Reproduzo texto excelente do amigo Taiguara, acadêmico de Direito, escritor amador, católico convicto, membro do Movimento Regnum Christi.
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Por Taiguara Fernandes de Sousa.

Não é a primeira vez que debato com um petista que me manda “ler”. Digo que “debato” apenas para dar a honra do termo ao petista, já que um petista nunca debate: um debate pressupõe o confronto de idéias. Um petista, quando muito, possui apenas um depósito mórbido de chavões prontos, enfiados cabeça adentro pela doutrinação imbecilizante do Partido. Preconceitos, não idéias.

Ademais, um petista nunca respeita a forma de um debate: sempre desce a níveis crassos de gritos e ranger de dentes. Ao interlocutor, necessário se faz pular na lama para combater o inimigo enlameado: se eles gritam, gritamos também e assim mostramos que não estamos de brincadeira.

Pois um petista, como seus amigos quadrilheiros de Sierra Maestra, só entende de altos brados retumbantes.

Assim, onde digo “debate”, leia-se “debate com um petista”, coisa que, por definição, possui natureza peculiar e bem distinta de um “debate” propriamente dito.

Mas o petista me mandou “ler”...

Isso porque ser conservador, para um petista, é estar num estágio inferior de inteligência, num nível inadmissível de miséria intelectual, que talvez somente o Ministério da Educação seja capaz de curar, após muitas provas de ENEM bem aplicadas. Ser conservador, para um petista, é ser um leproso da inteligência, um pária do esclarecimento, um não-gente no ostracismo das mentes pensantes, para o qual o único remédio é... “ler”.

Porque um petista, vocês sabem, lê muito.

Sempre que não conseguimos atingir a profundidade de suas reflexões filosófico-políticas, o petista tem a resposta: é porque não “lemos”.

“Leia!”, diz o petista aos pobres conservadores. “Leia!”, dí-lo a estas pobres mentes impensantes.

Somente pela “leitura” chegaremos um dia ao nível de intelecção que permite a um petista acusar a política econômica dos Governos anteriores de “neoliberal” e continuar utilizando a mesma política econômica em seu Governo, dizendo agora que “nunca antes na história destepaiz” houve política tão social! Será preciso muita leitura para entender como o mesmo objeto em essência poderá receber ora a impugnação, ora a louvação, a depender de quem ocupe a cadeira da Presidência.

Somente pela “leitura” chegaremos um dia ao nível de inteligibilidade que permite a um petista condenar o Governo Militar como ditatorial e torturador e louvar, quase que concomitantemente, Fidel Castro e Hugo Chávez como heróis da liberdade.

Não consigo, não consigo... Eu “leio” muito pouco!

Sim, eis o problema: pouca “leitura”.

“Leia!”, diz o petista ao conservador.

E, de pronto, encerra o debate. Dá as costas e sai orgulhoso de sua ordem vitoriosa.

Por que, afinal de contas, o que faria uma mente tão elevada com a de um petista perder tempo com pobres almas de raciocínio mórbido que, além de serem conservadoras, não lêem?!

Não, não. Deve estar correto o petista. Devemos “ler”.

Quando atingirmos, então, o seu nível de “leitura”, haveremos de debater.

Entretanto... como “ler”?

Peço vênia ao leitor, desde já, por, sendo eu pessoa de tão pouca leitura, atrever-me a fazer as seguintes considerações sobre tão nobre e profundo raciocínio da argúcia petista.

O petista me manda “ler”...

Tomemos Hugo de São Vítor. Aos petistas, que “lêem” muito, não precisarei explicar quem é. Mas aos conservadores, miseráveis de pouca “leitura”, direi que foi o maior pedagogo da história, exercendo em Paris os ofícios de professor por volta do século XII, tendo deixado uma linhagem de grandes pensadores.

No seu célebre Opúsculo sobre o modo de Aprender e Meditar, o eminente pedagogo preleciona que “os que se dedicam ao estudo devem primar simultaneamente pelo engenho e pela memória”.

O engenho e a memória estão intrinsecamente unidos no estudo bem-sucedido, sendo o primeiro “um certo vigor naturalmente existente na alma, importante em si mesmo” e a segunda “a firmíssima percepção das coisas, das palavras, das sentenças e dos significados por parte da alma ou da mente”.

“O que o engenho encontra, a memória custodia”, completa.

O engenho seria a firme vontade de conhecer – voluntas cognoscendi –, o desejo que impulsiona a alma à busca da Verdade, um vigor necessário para encontrar o conhecimento certo das coisas, conhecimento que a memória passará a custodiar.

Mas, continua Hugo de São Vítor, [d]uas coisas há que exercitam o engenho: a leitura e a meditação. Na leitura, mediante regras e preceitos, somos instruídos pelas coisas que estão escritas. A leitura é também uma investigação do sentido por uma alma disciplinada”.

A leitura - é lição vitorina - nos instrui, nos informa, é uma “investigação do sentido pela alma disciplinada”, é a recorrência aos livros, muitas vezes compaginados militarmente por horas a fio, na busca de matéria-prima para o pensamento.

Mas não é tudo.

Diz o nobre pedagogo que são duas as coisas que exercitam a voluntas cognoscendi: além da leitura, a meditação.

São palavras suas: “A meditação é uma cogitação freqüente com conselho, que investiga prudentemente a causa e a origem, o modo e a utilidade de cada coisa. A meditação toma o seu princípio da leitura, todavia não se realiza por nenhuma das regras ou dos preceitos da leitura. Na meditação, de fato, nos deleitamos discorrendo como que por um espaço aberto, no qual dirigimos a vista para a verdade a ser contemplada, admirando ora esta, ora aquelas causas das coisas, ora também penetrando no que nelas há de profundo, nada deixando de duvidoso ou de obscuro. O princípio da doutrina, portanto, está na leitura; a sua consumação, na meditação.

Assim, a leitura instrui, mas é pela meditação que a alma realmente apreende a Verdade, encontra o significado da leitura, destrincha cirurgicamente o livro, deleita-se nele, investiga com prudência, pela razão, “a causa e a origem, o modo e a utilidade de cada coisa”. Donde que a leitura não é um fim em si mesmo. Nem a meditação. A leitura é o meio inicial, ao qual se segue a meditação, para a consecução da doutrina, do conhecimento.

São lições de Hugo de São Vítor.

Onde quero chegar?

O petista me manda “ler”...

Diz-me para entulhar coisas na cabeça, mas nada sobre separá-las, organizá-las e até jogar fora o que não presta.

O petista me manda “ler”, mas ele mesmo não lê, nem medita.
 
Os petistas que mandam “ler”, quando muito, vão aos congressos do Partido, são ali doutrinados, enfiam-lhes cabeça adentro uma infinidade de chavões para que de lá saiam roboticamente militando na idolatria ao Poderoso Chefão. E ainda acusam os opositores de não “ler”.

O que lê um petista? Qual petista já leu Russell Kirk, G.K.Chesterton, Gustavo Corção, Tocqueville, Maritain, Tomás de Aquino, Aristóteles, Mises, Hayek ou Rothbard?

Mas qual conservador nunca leu Marx, Engels, Lenin e, para ficarmos entre nós, Konder?

Eu sou conservador, e já li Marx, Engels, Gramsci, Lenin e Konder.

Mas o petista que me mandou ler, nunca tocou num livro de Kirk, Chesterton, Corção, do Aquinate ou do Estagirita, só para citar alguns dentre os muitos que sei que ele não leu nem meditou – e eu, pelo menos, já li – e que por isso mesmo não estaria em condições de debater comigo de igual para igual.

Eu, conservador, já li os ideólogos dos petistas e os filósofos conservadores. O petista que me mandou ler mal leu seus ideólogos, muito menos os “meus” filósofos.

Com que autoridade os petistas me mandam “ler”?

Um petista não lê. E, quando lêem – sempre e somente os livros que o Partido lhes empurre –, não meditam. Em suma, ou não têm o princípio do conhecimento – a leitura – ou não chegam à sua consumação – a meditação.

É por este motivo que seus ideólogos – estes, sim, já leram, meditaram e são comunistas de caso pensado, por saberem os benefícios que o Estado burocrático e autoritário proporcionará aos amigos do poder – lhes apelidam sugestivamente de “idiotas úteis”: pessoas que não lêem nem meditam, e que deixaram suas mentes ser domesticadas pelo Partido, transformadas num depósito de tralhas pré-fabricadas pela ideologia. São marionetes adoradoras incondicionais do Poderoso Chefão, muito úteis à manutenção do Grande Irmão e sua quadrilha no poder.

Ou vocês acham que, sem pessoas como o petista que me mandou ler, algum comunista se manteria no poder com seus métodos econômicos falidos, sua filosofia política burra e seu jeito de governar autoritário?

Desta feita, aos petistas que me mandam “ler”, digo: “ler”? Como vocês?

Não, obrigado! Prefiro não “ler”!

Original:  En Garde!