quarta-feira, 30 de maio de 2012

Genocidio armênio

Por que ninguém lembra isso? Massacre de cristãos por muçulmanos turcos. Retirei a foto e comentário da página do A Vida Sacerdotal no Facebook.

ESTE TIPO DE "NOTICIAS" NADIE LAS PUBLICA. Es una foto recientemente publicada que estuvo custodiada por el Archivo Secreto del Vaticano. Es de la masacre a los armenios cristianos, víctimas de los ejércitos turcos musulmanes. Los soldados turcos “jugaban” con las mujeres armenias embarazadas, algunos “jugaban a los dados para adivinar el sexo del niño antes de matar al feto con la bayoneta, una vez extraído del vientre de la madre.” Más de millón y medio de armenios cristianos murieron así en la primera guerra mundial... ¿pero quién lo sabe?

Só assista ao vídeo se tiver estômago. A banda de origem armênia System of a Down em algumas de suas letras não deixa de lembrar o genocídio praticado contra seus antepassados.



terça-feira, 29 de maio de 2012

São Fernando III Rei de Leão e Castela

Plinio Maria Solimeo
No início do século XIII, os muçulmanos da Espanha uniram-se aos da África numa grande coligação visando restaurar o império islamita até aos Pirineus. Inocêncio III (1160-1216), um dos grandes Papas da Idade Média, promoveu então uma cruzada dos reis cristãos de Castela, Navarra e Aragão para enfrentar a moirama. O embate se deu no dia 16 de julho de 1212, na memorável batalha de Navas de Tolosa, quando o exército cristão desbaratou o da Meia Lua, salvando assim toda a Europa do iminente perigo muçulmano e estendendo significativamente os limites da Cristandade de então.

Ao término da batalha, o Arcebispo de Toledo, D. Rodrigo Jimenez de Rada, dividiu o botim: os reis de Aragão e Navarra ficaram com todas as riquezas dos vencidos. E voltando-se para D. Afonso VIII, de Castela, disse-lhe o Arcebispo: “Quanto a vós, ficais com a glória e a honra do triunfo”. Parte dessa herança e dessa glória foram sem dúvida suas filhas, as princesas dona Berengüela e dona Branca, que de futuro seriam mães respectivamente de São Fernando III e de São Luís Rei da França. A D. Afonso VIII coube assim a glória de ser avô daqueles que talvez tenham sido os maiores reis da Idade Média.1

“Quem ama, odeia; quem odeia combate”

Conta-se que certo dia de agosto de 1199, ao se dirigirem o rei Afonso IX de Leão e a rainha dona Berengüela de Salamanca para Zamora, esta deu à luz no acampamento real àquele que seria um dos maiores guerreiros do seu tempo: São Fernando III de Leão e Castela.

O menino cresceu na corte leonesa sob os cuidados de sua piedosa mãe até a anulação por decisão papal do casamento de seus pais, porquanto o mesmo havia sido efetuado dentro dos graus de parentesco proibidos então. Dona Berengüela voltou para Castela e o menino ficou aos cuidados do pai.

Quando contava aproximadamente dez anos, Fernando foi acometido por doença mortal, não podendo dormir nem comer. Tomando-o, dona Berengüela cavalgou com ele até o mosteiro de Oña, onde passou a noite rezando e chorando aos pés da Virgem milagrosa. Então, diz um cronista da época, “o menino começou a dormir, e depois que acordou, logo pediu para comer”. Segundo um hagiógrafo do santo, a partir daí tudo mudou: “Desde esse momento, a fortuna tornou-se inseparável companheira do amável príncipe: ela o porá em possessão de dois tronos, abrir-lhe-á os corações dos homens e, sem atraiçoá-lo jamais, o porá em posse da vitória”.2

De uma piedade combativa, o jovem príncipe chorava de indignação quando ouvia dizer que os mouros blasfemavam contra Cristo e ultrajavam a Espanha cristã. E – como diz um antigo adágio da aguerrida Espanha, “Quem ama, odeia; quem odeia combate” – seu ódio contra o inimigo da fé crescia em decorrência de seu amor a Deus. Tornar-se-á mais tarde campeão de Jesus Cristo, procurando reconquistar toda a Espanha para a sua Igreja.

São Fernando, Rei de Leão e Castela

Dona Berengüela vivia na corte de seu irmão, o rei menino Henrique I, então com 14 anos. Brincando este um dia no palácio episcopal de Palência, uma telha caiu-lhe mortalmente sobre a cabeça. Sem herdeiros, seu trono passou para ela. Demonstrando gênio político superior e desinteresse de mãe, depois de proclamada rainha de Castela pelas cortes de Valladolid, dona Berengüela renunciou ao trono em favor do filho, a quem tinha chamado sigilosamente de Leão. Fernando tinha então 18 anos e era também herdeiro do trono de Leão.

Quem não gostou foi o pai de Fernando, Afonso IX, que desejava o trono para si. Sem levar em consideração que lutava contra o próprio filho, invadiu Castela à frente do exército leonês.
Não querendo lutar contra o pai, São Fernando enviou-lhe uma carta na qual dizia: “Por que hostilizais com tanta irritação este reino? Não tendes que temer danos nem guerras de Castela enquanto eu viver”.3

Afonso IX renunciou ao desejo de se tornar rei de Castela, mas deserdou o filho ao morrer.
São Fernando III não só consolidou a hegemonia de Castela como ainda aumentou seu prestígio ampliando-lhe as fronteiras, pacificando-a, repovoando-a e mantendo a paz com seus vizinhos.
Com a morte do pai e a renúncia das herdeiras do trono – suas meias-irmãs dona Sancha e dona Dulce, filhas de Afonso IX com a sua primeira mulher Teresa de Portugal – acedeu à coroa de Leão. Dona Teresa também tivera que separar-se do marido por razões de parentesco.

Aos 22 anos de idade, Fernando III casou-se com Beatriz da Suábia, considerada a princesa mais piedosa do seu tempo. Desse matrimônio nasceram dez filhos, sete homens e três mulheres. Enviuvando em 1235, voltou a casar-se, desta vez com Joana de Ponthieu, bisneta de Luís VII da França. Desta união nasceram mais três filhos.

Reconquistando os reinos mouros para Cristo

Após a vitória cristã em Navas de Tolosa os reinos muçulmanos da Espanha entraram em decadência, favorecendo a incorporação de muitos deles ao domínio de São Fernando por meio de pactos ou conquistas.
Os contemporâneos descrevem três grandes virtudes nesse grande guerreiro: a rapidez, a prudência e a perseverança. Quando os inimigos o criam em um lado, ele aparecia no outro. E sabia prolongar os assédios para economizar sangue.4

Foram inúmeras as campanhas guerreiras de São Fernando em sua reconquista da Espanha para Nosso Senhor Jesus Cristo.
O rei-santo tinha apenas 25 anos quando entrou pela primeira vez na Andaluzia. O rei mouro de Baeza veio oferecer-lhe obediência, dizendo-lhe que estava pronto a render sua cidade e assisti-lo com dinheiro e alimentos.

Em 1235, enquanto São Fernando se apoderava de Ubeda e as Ordens militares conquistavam com outras praças Trujillo e Medellin, com apenas 1500 homens seu filho, o Infante D. Afonso – mais tarde Afonso X, o Sábio –, vencia em Jerez de la Frontera o exército do rei mouro de Sevilha, composto de sete corpos de soldados. O que foi considerado por todos como um feito verdadeiramente milagroso.

Num dia do ano de 1236 estava o rei-guerreiro com sua mãe à mesa para o almoço, em Benavente, cerca de León, quando chegou um cavaleiro a toda brida para avisá-lo de que alguns cristãos haviam conseguido apoderar-se do bairro de Ajarquia, nos arrabaldes de Córdoba, antiga capital do império muçulmano, na época com 300.000 habitantes. Sitiados, pediam socorro ao monarca para enfrentar os inúmeros mouros que os cercavam.

Sem provar nenhum alimento, São Fernando levantou-se imediatamente e foi reunir seus guerreiros para socorrer os bravos súditos. Isso feito, eles cercaram a cidade de Córdoba. O soberano foi apertando cada vez mais o cerco, até que no dia 29 de junho, festa dos gloriosos Apóstolos São Pedro e São Paulo, o exército cristão entrou na antiga capital dos califas, havia 525 anos em poder dos infiéis. A mesquita maior da cidade foi purificada pelo bispo de Osma e transformada em igreja dedicada a Nossa Senhora.

Um fato simbólico: tendo o mouro Almanzor dois séculos antes conquistado a Galícia, havia feito transportar os sinos do santuário de Santiago de Compostela até Córdoba em ombros de cristãos. Pois bem, em reparação por esse ultraje, São Fernando mandou que os sinos fossem restituídos ao seu local de origem em ombros de mouros!

Triunfo da Cruz sobre o crescente

O cerco de Sevilha, em 1247, foi uma das mais notáveis empresas daqueles tempos. Durante 20 meses os mouros resistiram, pois o calor e as enfermidades pareciam lutar em seu favor. Contudo, o rei-santo não desistiu. Tanto mais que não tinha pressa, tendo ele e seus guerreiros chamado suas mulheres e filhos para o cerco. São Fernando havia trazido até mesmo os futuros povoadores para Sevilha, homens de todas as regiões e de todos os ofícios.

Finalmente Sevilha capitulou. Cantando hinos religiosos e portando um andor com a imagem da Virgem vitoriosa, um estupendo cortejo de cem mil homens entrou na cidade conquistada. Foi um brilhante triunfo da Santa Cruz sobre o Islã. De todo o antigo império mouro restava apenas o reino de Granada.

São Luís, rei de França, congratulou-se com seu primo pelo sucesso e enviou-lhe um fragmento da coroa de espinhos e outras preciosíssimas relíquias que São Fernando mandou colocar na catedral de Sevilha — outra grande ex-mesquita purificada e consagrada ao culto cristão.

Havendo, com exceção do reino de Granada, expulsado os mouros de quase toda a Espanha, São Fernando preparava-se para ir plantar a fé na África quando foi acometido por mortal doença, apesar de ter somente 52 anos de idade. Depois de receber todos os sacramentos da Igreja, faleceu piedosamente no dia 30 de maio de 1252, indo receber no Céu a recompensa demasiadamente grande que Deus reserva para os seus eleitos.

Assim um autor o descreve: “Elevada estatura, agilidade de movimentos, distinção e majestade nos modos, doce e forte ao mesmo tempo, amável com firmeza, reúne em maravilhosa harmonia as qualidades do guerreiro e as de homem de Estado”.5

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Notas:
1. Cfr. Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Zaragoza, 1947, tomo III, p. 302.
2. Fr. Justo Pérez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo II, p. 481.
3. Edelvives, op. cit. p. 304; Urbel, p. 482.
4. Urbel, id. ib. p. 484.
5. Urbel, op. cit., p. 487.
Outras obras consultadas:
- João Batista Weiss, Historia Universal, Tipografia La Educación, Barcelona, 1929, tomo VI, pp. 595 e ss.
- Carlos R. Eguía, Fernando III de Castilla y León, El Santo, in Gran Enciclopedia Rialp, Ediciones Rialp, Madri, 1972, tomo X, 41 e ss.


domingo, 13 de maio de 2012

Reforma da Catedral - Campanha MG

A Catedral Santo Antônio em Campanha Sul de Minas Gerais, está em plena campanha para arrecadação de fundos para sua reforma. Infelizmente não podemos contar com ajuda do governo em todas suas esferas. O IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais) não aprova o projeto de tombamento alegando que já é tombado pelo IPHAM (Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural do Município). Segundo reportagem da EPTV- Sul de Minas , a prefeitura informou que não libera recursos para a reforma da Catedral de Santo Antônio porque o imóvel não pertence ao município.

O templo foi construído em 1823 e precisa de reforma urgente. Cansados de promessas de políticos, alguns leigos se mobilizaram no intuito de criar uma campanha de restauro. A obra está estimada em 8 milhões. O forro e o telhado, tidos como prioritários, está calculado em 700 mil reais. Foram distribuídos carnês de doação para as 77 paróquias da Diocese. Aderiram cerca de 750 pessoas até o momento. O valor mínimo é de R$ 25,00. Doações podem ser feitas com qualquer valor.

Gostaria de pedir aos caríssimos leitores deste blog, que por favor façam doações para esta obra de tamanha importância, não só para nossa Diocese, mas para todo o Estado de Minas e do Brasil. Afinal a Catedral Santo Antônio é a terceira maior do País. Monumento não só espiritual, mas de reconhecido valor histórico. Nossa padroeira diocesana, Nossa Senhora do Carmo, sem dúvida, juntamente com Santo Antônio, retribuirão com muitas graças aqueles que generosamente ajudarem com qualquer quantia para esta obra.

Os interessados em ajudar podem depositar as doações nas seguintes contas: Banco Bradesco – Agência 6440-8, Conta Corrente: 1000-6 ou Banco Sicoob – Agência 3169, Conta Corrente – 2801-0.


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Santo Atanásio, coluna da Igreja

Santo Atanásio
Plinio Maria Solimeo
Um dos maiores santos da História, odiado virulentamente pelos maus, foi entretanto muito amado por sua luta intrépida em defesa da Fé

"O século IV, a idade de ouro da literatura cristã, nos oferece em seus umbrais a figura gigantesca de Atanásio de Alexandria, o homem cujo gênio contribuiu para o engrandecimento da Igreja muito mais que a benevolência imperial de Constantino. Seu nome está indissoluvelmente unido ao triunfo do Símbolo de Nicéia"1, que ainda hoje rezamos.

"Há nome mais ilustre que o de Santo Atanásio entre os seguidores da Palavra da verdade, que Jesus trouxe à terra? Não é este nome símbolo do valor indomável na defesa do depósito sagrado, da firmeza do herói face às mais terríveis provas da ciência, do gênio, da eloqüência, de tudo o que pode representar o ideal de santidade de um Pastor unido à doutrina do intérprete das coisas divinas? Atanásio viveu para o Filho de Deus; Sua causa foi a de Atanásio. Quem estava com Atanásio, estava com o Verbo eterno, e quem maldizia o Verbo eterno maldizia Atanásio"2, comenta Dom Guéranger, o admirável autor eclesiástico do século XIX. 

É esse grande Santo que comemoramos no dia 2 deste mês de maio. 

Arianismo: heresia devastadora  
Deus nosso Senhor permitiu que houvesse várias heresias logo no início da Igreja. Com isso, ao refutá-las, os doutores foram explicitando a verdade católica a partir da Revelação e estabelecendo assim os fundamentos básicos sobre os quais se firmasse a verdadeira doutrina.
Uma das heresias que mais dano causou à Igreja, a partir do século III, foi o arianismo, devido ao apoio que encontrou da parte de muitos bispos e imperadores. 

Na segunda metade do século III, Melécio, Bispo de Lycopolis, rompeu com São Pedro de Alexandria, provocando um cisma que dividiu o patriarcado de Alexandria. Melécio caiu em cisma (ou seja, provocou uma divisão) por ter discordado da indulgência do Santo ao receber de volta à Igreja cristãos arrependidos que, por fraqueza, haviam oferecido incenso aos ídolos para evitar a morte. 

Ario, homem intrigante, habilidoso, persuasivo, vindo da Líbia, juntou-se aos cismáticos. Elevado ao sacerdócio pelo primeiro sucessor de São Pedro de Alexandria, ambicioso e buscando preeminência, Ario começou a pregar uma nova doutrina, que negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Alexandre, novo Patriarca de Alexandria, condenou-a como herética. 

Atanásio: sustentáculo anti-ariano 
"Jamais, talvez, nenhum chefe de heresia possuiu em mais alto grau que Ario as qualidades próprias para esse maldito e funesto papel. Instruído nas letras e na filosofia dos gregos, dotado de uma rara fineza de dialética e de linguagem, ele conseguia dar ao erro o aspecto e o atrativo da verdade. Seu exterior ajudava a sedução. Seu orgulho se disfarçava sob uma simples vestimenta, sob um olhar modesto, recolhido, mortificado, que lhe dava um falso ar de santidade, e ao qual ele sabia aliar um trato gracioso e um tom doce e insinuante"3. Isso lhe abriu a porta dos grandes e poderosos do mundo. Eusébio de Cesaréia lhe concedeu asilo e o protegeu. Eusébio de Nicomédia tornou-se seu mais forte defensor. Por isso sua heresia estendeu-se séculos afora, provocando grande mal à Igreja. 

O crescimento e o tumulto da nova heresia preocupou o Imperador Constantino, que enviou o mais venerado Prelado da época, Ósio de Córdoba, a Alexandria, para tentar fazer cessar a "epidemia". Este, estando com Santo Atanásio, reconheceu logo sua ortodoxia; bem como a má-fé e erro de Ario. Por isso, aconselhou o Imperador a convocar um concílio em Nicéia, para condenar a nova heresia. Neste foi composto o famoso Credo de Nicéia, que alguns heresiarcas assinaram constrangidos, e outros, recusando-se a fazê-lo, foram exilados.

Foi ali, na grande assembléia, que um pequeno grande homem, secretário de Santo Alexandre, se fez notar pelo fogo de suas palavras, eloqüência e amor à ortodoxia católica. Era ele Atanásio.

Moldador dos acontecimentos 
"Atanásio era uma dessas raras personalidades que deriva incomparavelmente mais de seus próprios dons naturais de intelecto do que do fortuito da descendência ou dos que o rodeiam. Sua carreira quase personifica uma crise na história da Cristandade, e pode-se dizer dele que mais deu forma aos acontecimentos em que tomou parte do que foi moldado por eles"4. A esta descrição psicológica devemos acrescentar sua fé profunda e inabalável, a serviço da qual colocou suas qualidades naturais.

De estatura abaixo da média (pelo que foi objeto de debique por parte do apóstata Juliano), segundo seus biógrafos, era de compleição magra, mas forte e enérgico. Tinha uma inteligência aguda, rápida intuição, era bondoso, acolhedor, afável, agradável na conversação, mas alerta e afiado no debate.
A História não guardou o nome de seus pais. Pela alta formação intelectual que ele demonstra ainda jovem, julga-se que pertencia à classe mais elevada. 

Jovem Patriarca de Alexandria
Ainda adolescente, foi notado e apreciado por Santo Alexandre, que o tomou sob sua proteção e, com o tempo, o fez seu secretário. No Concílio de Nicéia ainda não havia recebido a ordenação. Mas, cinco meses depois, Santo Alexandre, ao falecer, designou-o como seu sucessor na Sé de Alexandria. Atanásio tinha apenas trinta anos de idade.

Triste herança recebeu o jovem bispo. Durante seus primeiros anos de episcopado, os melecianos e arianos juntaram-se para tumultuar o povo e lançar o espírito de revolta, de que se alimentam as heresias. Pois o arianismo, se bem que tivesse um suposto fundamento religioso, era mais um partido político de agitadores, como muitos movimentos da esquerda católica de hoje em dia. Não havia calúnia, difamação e ardil que os arianos não inventassem contra Atanásio, para minar sua autoridade.

O Imperador Constantino, perdendo sua mãe Santa Helena, ficou sob a influência de sua irmã Constância, conquistada pela heresia. A pedido dela, fez voltar do exílio os hereges exilados em Nicéia, enquanto perseguia os católicos ortodoxos. 

A astúcia dos santos
Apenas retornado do exílio, Eusébio de Nicomédia convoca um concílio em Cesaréia, sede do outro Eusébio ariano, para condenar Santo Atanásio. Este é intimado a comparecer em Tiro — para onde o concílio havia sido transferido — a fim de responder às acusações assacadas contra ele. 

Fizeram entrar uma mulher de cabelos desgrenhados que, com altos gritos, acusou o Santo de ter dela abusado. Um dos padres de Atanásio, percebendo o jogo, levantou-se e foi até a impostora, exclamando: "Como! Então é a mim que imputas esse crime?!". Ela, que não conhecia Atanásio, replicou: "Sim, é a ti. Eu bem te reconheço". Houve uma gargalhada geral, e a miserável fugiu cheia de confusão. 

Mas isso não desarmou os impostores. Mostrando uma mão ressequida, afirmaram pertencer a um tal Arsênio, que havia tempos desaparecera, e certamente fora esquartejado por Atanásio para efeitos de magia. Atanásio faz entrar na sala o próprio Arsênio, que descobrira na solidão do deserto. Mostrando-o, disse aos acusadores: "Vejam Arsênio, com suas duas mãos. Como o Criador só nos deu duas, que meus adversários expliquem de onde tiraram essa terceira". Os hereges, confundidos, provocaram verdadeiro tumulto e suspenderam a sessão.

Exílio causado por amor à ortodoxia
Com calúnias e outros artifícios, os hereges, que gozavam do prestígio do poder imperial, conseguiram que o Santo fosse exilado cinco vezes.
O primeiro exílio, em Treveris, durou cinco anos e meio, terminando em 337 quando, com a morte de Constantino, seu filho do mesmo nome chamou Atanásio para ocupar novamente sua Sé. No ano anterior, Ario, sentindo-se mal quando era levado em triunfo pelos seus partidários, teve que retirar-se a um lugar escuso, onde morreu com as entranhas nas mãos. 

Entretanto, morto o heresiarca, não morreu a heresia, que em 340 conseguiu impor um bispo herege em Alexandria, tendo Atanásio que fugir para o exílio em Roma. Foi bem acolhido pelo Papa, que condenou o intruso.
Atanásio passou três anos em Roma, onde introduziu os monges do Oriente. Publicou na Cidade Eterna grandes obras contra os hereges arianos. Em 343 foi exilado para a Gália. 

A década de 346 a 356 foi o período de ouro para Atanásio na Sé de Alexandria. Pôde dedicar-se inteiramente ao ministério episcopal, instruindo o clero e o povo, dedicando-se aos necessitados e favorecendo a vida monástica. Sobretudo fortaleceu na fé os católicos fiéis.
Em um novo concílio, em Milão, em 356, os arianos obtiveram que Santo Atanásio fosse mais uma vez exilado. Ele retirou-se então para o deserto do alto Egito, levando uma vida de anacoreta durante os seis anos seguintes, vivendo com os monges e dedicando-se a seus escritos. 

Perseguição inclemente ao Santo
Com a subida de Juliano, o Apóstata, ao trono imperial, Atanásio pôde voltar, em 362, a Alexandria. Mas, pouco depois, ciumento do prestígio do Santo, o ímpio imperador mandou exilá-lo de novo. Não foi por muito tempo, pois Juliano faleceu no ano seguinte, depois de ter tentado restaurar no Império o paganismo. O novo imperador, Joviano, anulou o exílio de Atanásio, que voltou mais uma vez a Alexandria. 

Favorecido com a boa vontade do novo Imperador, o patriarca pensava desta vez poder dedicar-se inteiramente às suas ovelhas. Joviano, entretanto, faleceu no ano seguinte, e Atanásio foi mais uma vez exilado. Conta-se que teve de refugiar-se durante quatro meses no túmulo de seu pai.
O povo de Alexandria não podia passar sem seu zeloso pastor. Recorreu nessa ocasião a Valente, irmão do Imperador ariano Valentiniano, e obteve que Atanásio pudesse voltar em paz à sua igreja. 

Assim, depois de uma vida tão tumultuada e de tantos perigos, Santo Atanásio, como ressalta o Breviário Romano, "morreu em paz em seu leito", no dia 18 de janeiro de 373. Havia governado, com intervalos, durante 46 anos, a igreja (diocese) de Alexandria. 

O grande iluminador
"`No caráter de Atanásio — disse Bossuet — tudo é grande'. Toda sua vida é a revelação de uma energia prodigiosa, que só encontramos em épocas decisivas. Indiscutivelmente, sua grandeza como homem o coloca na primeira linha dos caracteres mais admiráveis que produziu o gênero humano. Como escritor e Doutor, pôde ser chamado o grande iluminador, e coluna fundamental da Igreja"5

Notas:
1.Fr. Justo Perez de Urbel, OSB, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, 3ª. edição, vol. II, p.253.
2.D. Próspero Guéranger, El Año Litúrgico, Ediciones Aldecoa, Burgos, 1956, tomo III, p. 758.
3.Les Petits Bollandistes, p. 239.
4.The Catholic Encyclopedia, Online Edition.
5.Fr. Justo Perez de Urbel, op. cit., p. 267.