quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Da Imitação de Cristo: "Hão-de ver o Filho do Homem vir"

«O Reino de Deus está dentro de vós», diz o Senhor (Lc 17,21). Volta-te com todo o teu coração para o Senhor e deixa este mundo miserável; e a tua alma achará repouso. Aprende a desprezar as coisas exteriores e a entregar-te às interiores, e verás chegar para ti o Reino de Deus. Na verdade, «o Reino de Deus é a paz e a alegria no Espírito Santo» (Rom 14,17), que não é dado aos ímpios. 

Cristo virá junto de ti, mostrando-te a sua consolação, se Lhe tiveres preparado interiormente uma morada digna. Toda a sua glória e beleza são de dentro, e é aí que Ele Se compraz. Ele visita frequentemente o homem recolhido, a sua conversa é doce, a sua consolação agradável, a sua paz imensa, o seu convívio admirável. 

Vai, alma fiel, prepara o teu coração para este Esposo, para que Se digne vir a ti e em ti habitar. Na verdade, Ele diz assim: «Se alguém Me ama, ouvirá a minha palavra, e viremos a ele, e nele faremos morada» (Jo 14,23). […] O homem interior depressa se recolhe, pois nunca se dispersa totalmente nas coisas exteriores. O trabalho exterior não o prejudica, nem as ocupações, por vezes necessárias; mas, tal como sucedem as coisas, assim a elas se acomoda. Aquele que é bem formado e ordenado interiormente não se importa com as acções admiráveis ou perversas dos homens. […] Se renunciares às consolações exteriores, poderás contemplar as coisas do céu e alegrar-te frequentemente em teu coração.

Imitação de Cristo, tratado espiritual do século XV, Livraria Moraes, 1959 
Livro 2, § 1 

Fonte: Evangelho Cotidiano

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Perdoar 7 vezes ao dia.

Isaac da Estrela (?-c. 1171), monge cisterciense 
Sermão 31: PL 194,1792, SC 207 

«Levai os fardos uns dos outros de outros; assim cumprireis a lei de Cristo»; «Suportai-vos uns aos outros com amor» (Gal 6,2; Ef 4,2): é esta a lei de Cristo. Quando vejo no meu irmão alguma coisa incorrigível, como resultado de dificuldades ou de enfermidades físicas ou morais, porque não suportá-lo com paciência, porque não consolá-lo com todo o coração, segundo a palavra da Escritura: «Os seus filhos serão levados ao colo e consolados sobre os joelhos» (Is 66,12)? Faltar-me-á essa caridade que tudo suporta, que é paciente para apoiar, indulgente para amar (cf 1Cor 13,7)? De qualquer maneira, esta é a lei de Cristo: na sua Paixão, Ele realmente «tomou sobre Si as nossas enfermidades» e, na sua misericórdia, «carregou com as nossas dores» (Is 53,4), amando aqueles que carregava, carregando aqueles que amava. 

Quem, ao contrário, é agressivo para com o irmão em dificuldades, quem o atormenta pelas suas fraquezas, sejam elas quais forem, submete-se obviamente à lei do diabo e executa-a. Sejamos pois compassivos uns com os outros e cheios de amor fraternal; suportemos as fraquezas e lutemos contra os vícios. […] E qualquer tipo de vida que permita entregar-se com mais sinceridade ao amor de Deus e, por Ele, ao amor ao próximo – seja na vida religiosa ou na vida laica – é verdadeiramente agradável a Deus.