Luzeiro da Companhia de Jesus, atuou como conselheiro de
Reis, pregador na Corte de Viena, teólogo do Concílio de Trento e
Provincial jesuíta na Alemanha do Norte
Luís Carlos de Azevedo
Escrevendo
da cidade alemã de Augsburgo a Santo Inácio de Loyola, Fundador da
Companhia de Jesus, o Pe. Jerônimo Nadal, ao descrever a situação da
Igreja na Alemanha, comenta: "Não é possível olhar para nada sem
irromper em lágrimas e ser tomado de compaixão infinita".(*)
Precisamente
esse era o campo de batalha que a Providência destinava a São Pedro
Canísio (1521-1597), cuja festa se comemora no dia 21 deste mês, e que
haveria de ser nomeado por Santo Inácio Provincial da Companhia na
Alemanha do Norte.
Desde logo o Santo, através de
enérgicos sermões, sustentou na Fé os católicos de Colônia contra as
heresias do Arcebispo da cidade, Hermann von Wied.
Atuando
junto ao Imperador Carlos V e ao Cardeal Jorge da Áustria,
Príncipe-Bispo de Liege, conseguiu o Santo que o Papa excomungasse o
heresiarca, removendo-o do cargo.
Grande foi a
reputação que São Pedro Canísio granjeou entre os católicos. Numa das
incontáveis viagens que fazia, sempre a pé, pela Alemanha, encontrou-se
em Ulm com o Cardeal Otão Truchsesz, Bispo de Augsburgo. O purpurado,
impressionado com seus méritos extraordinários, resolveu pedir a Santo
Inácio e ao Papa Pio IV autorização para enviá-lo, juntamente com o
jesuíta Cláudio le Jay, como teólogo para o Concílio de Trento
(1545-1563). O que realmente foi feito, ocasião em que o incansável
jesuíta pôde exercer benéfica atuação em prol da Igreja universal.
Lá,
como assistente do célebre filho da Companhia, Pe. Tiago Laínez, foi
incumbido de fazer uma relação exata de todas as heresias a respeito dos
Sacramentos da Igreja e de opor-lhes uma refutação adequada. Tarefa que
realizou esplendida mente.
Concluídas as sessões
daquela magna Assembléia, o Papa nomeia o renomado teólogo do Concílio
de Trento seu legado junto aos Príncipes do Império Germânico, a fim de
fazê-los aceitar as determinações de Trento.
Assim,
visita ele as principais cortes do norte da Alemanha. Detém-se nas
cidades mais hostis à Igreja e inquinadas pela heresia, sendo acolhido
com respeito e veneração.
Catecismo
Desde o ano de 1546, os Padres reunidos no Concílio de Trento colocaram como primeira de suas preocupações a Catequese.
Com
efeito, era preciso reparar a grave ignorância religiosa que, então,
era desoladora. Em certas partes da Europa, por exemplo, os católicos
não conheciam o sinal da cruz, não sabiam rezar e nunca assistiram a uma
Missa!...
Entretanto, havia uma "fome de Deus" à qual a pseudo-reforma protestante pretendia dar resposta.
O
Catecismo Romano, elaborado pelo Concílio de Trento e publicado por São
Pio V, correspondia a uma grave necessidade da Igreja, mas se destinava
a espíritos formados e sobretudo aos membros do Clero.
Nessa
emergência, São Pedro Canísio é celebrado pela sua Súmula de Doutrina
Católica, que ele concebeu destinada a três públicos diferentes: as
edições major, minor e minimum colocavam à disposição das crianças, como
de católicos cultos, todo o necessário para a sua formação religiosa.
Ficava
assim também atendido o Imperador Fernando I, que sucedeu a Carlos V, e
que há muito vinha insistindo com Santo Inácio sobre a necessidade de
se elaborar para a Alemanha um compêndio da doutrina católica, pois
Lutero falava e escrevia em alemão e era preciso, nesta língua,
rebater-lhe os erros e heresias.
Esta Súmula
de São Pedro Canísio é considerada, juntamente com o Catecismo Romano,
do Concílio de Trento, um dos maiores triunfos doutrinários da Igreja
contra o protestantismo.
Assim que o trabalho
veio a lume, um decreto imperial fê-lo difundir em todos os domínios de
Fernando I. Felipe II, rei da Espanha, seguiu o exemplo de seu tio,
fazendo-o imprimir em seus Estados, no Velho e Novo Mundo. A Súmula foi
sendo traduzida praticamente em todas as línguas das nações européias e,
em pouco tempo, teve mais de 400 edições.
Profissão de Fé
Os
protestantes começaram a espalhar pelo Tirol o boato calunioso de que o
Santo e um certo número de jesuítas haviam aderido à Reforma de Lutero.
São Pedro fazia uma pregação em E1wangen quando
seu grande amigo, o Cardeal-Bispo de Augsburgo, deu-lhe a conhecer esses
rumores, que consternavam os católicos crédulos e transia de alegria os
protestantes.
Apurou-se que foi a partir da
cidade de Wurzburgo que o boato começara a propagar-se pela Alemanha. O
Santo não hesitou um instante. Dirigiu-se a pé a essa populosa cidade,
percorreu todas as ruas, intimando o povo a comparecer imediatamente à
Catedral. O recinto não podia abrigar a todos. O jesuíta, coberto ainda
pelo pó da estrada, cansado, desconsertou seus inimigos. Em três turnos,
fez ele abrasada profissão de Fé católica, demonstrando com muita
vivacidade o absurdo de todas aquelas imputações. Os hereges ali
presentes ficaram confundidos e desarticulados em suas maquinações.
Morte
São Pedro Canísio faleceu em Friburgo (Suíça), no dia 29 de dezembro de 1597, aos 76 anos de idade.
À
notícia de sua morte, a cidade inteira se comoveu. De início seu corpo
foi velado na capela do Colégio dos jesuítas, que ele, mesmo fundara na
cidade. Ali, alguns esperavam atônitos que seu corpo se reanimasse, a
fim de voltarem a ouvir suas eloqüentes palavras. Outros se inclinavam
para oscular-lhe os pés e as mãos. Outros ainda, para satisfazer sua
devoção, cortavam mechas de seu cabelo, ou pedaços de sua batina, que
ficou reduzida a frangalhos.
No dia seguinte, o
Clero, o Senado e a Magistratura dispuseram que sua exumação se fizesse
na Catedral de São Nicolau. Os habitantes de Friburgo inscreveram em sua
lápide o seguinte epitáfio: Com justiça é chamado coluna da Igreja, conhecido em todo o orbe católico.
* * *
Leitor,
se no fundo de tua alma sentes profundas analogias entre a situação
aqui descrita e a nossa época, confia! Ainda que hoje estejamos em
condições muito piores, Deus suscita sempre os homens providenciais que
hão de sustentar a Fé, em sua época, e defender a ortodoxia católica, a
exemplo desta "coluna da Igreja" no século XVI, que foi o extraordinário
São Pedro Canísio.
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OBRAS CONSULTADAS
1. J. Crétineau-Joly. Histoire de la Compagnie de Jésus. Paul Mellier. Éditeur. Paris. 1844, tomo 11.
2. João Batista Weiss, Historia Universal, Tipografia la Educación, Barcelona, 1929, volume IX.
3. Vies des Saints illustrées pour tous les jours de l'année, Bonne Presse, Paris, novembro/dezembro.
4. Obras Completas de San Ignacio de Loyola, BAC, Madri, 1947.
5. Enciclopedia Universal Ilustrada, Espasa-Calpe, Madri-Barcelona, Tomo XI.
(*) Obras Completas de San Ignacio de Loyola, BAC, Madri, 1947, p. 115.
Fonte: Revista Catolicismo