quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sobre a oração

Orígenes (c. 185-253), presbítero, teólogo 
A Oração, 31 
«Tudo quanto pedirdes em meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.»


Parece-me que quem se dispõe a orar deverá recolher-se e procurar preparar-se, para conseguir estar mais atento e concentrado durante a oração. Deve também afastar do seu pensamento a ansiedade e a perturbação, e esforçar-se por recordar a grandeza de Deus, de quem se aproxima, considerando que será ímpio apresentar-se na sua presença sem a necessária atenção, sem algum esforço, mas com uma espécie de ligeireza; deve, enfim, rejeitar pensamentos excêntricos. 

Ao começar a oração, devemos, digamos assim, apresentar a alma antes das mãos, erguer a Deus o espírito antes dos olhos, libertar o espírito da terra antes de o elevarmos para o oferecer ao Senhor do universo, enfim, depor quaisquer ressentimentos por ofensas que creiamos ter sofrido, se de facto desejamos que Deus esqueça o mal que cometemos contra Ele, contra os nossos semelhantes, ou contra a boa razão. 

Dado que podem ser muitas as atitudes do corpo, o gesto de erguer as mãos e os olhos aos céus deve claramente ser preferido a todos os outros, para assim exprimirmos no corpo a imagem das disposições da alma durante a oração [...], mas as circunstâncias podem por vezes levar-nos a rezar sentados [...] ou mesmo deitados [...]. Por seu turno, a oração de joelhos torna-se necessária sempre que acusamos os nossos pecados diante de Deus, e Lhe suplicamos que deles nos cure e nos absolva. Essa atitude é o símbolo da humilhação e da submissão de que fala Paulo, quando escreve: «É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, do qual recebe o nome toda a paternidade nos céus e na terra» (Ef 3,14-15). Trata-se da genuflexão espiritual, assim chamada porque todas as criaturas adoram a Deus no nome de Jesus a Ele se submetem humildemente. O apóstolo Paulo parece fazer uma alusão a isso quando diz: «Para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra» (Fil 2,10).

Fonte: Evangelho Cotidiano

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Fugi das querelas

Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo, mártir 
Carta aos naturais de Filadélfia 


«A obra de Deus consiste em acreditar naquele que Ele enviou.»


Vós, filhos da luz verdadeira, fugi das querelas e das más doutrinas. Como ovelhas, segui o vosso pastor. Porque muitas vezes os lobos aparentemente dignos de fé extraviam os que correm na corrida de Deus; mas, se permanecerdes unidos, eles não encontrarão lugar entre vós. 

Tende pois cuidado em participar numa única Eucaristia; não há, com efeito, senão uma só carne de Nosso Senhor, um só cálice para nos unir no seu sangue, um só altar, como não há senão um só bispo rodeado de presbíteros e de diáconos. Assim, tudo o que fizerdes, fá-lo-eis segundo Deus. [...] O meu refúgio é o Evangelho, que é para mim o próprio Jesus na carne, e os apóstolos, que incarnam o presbitério da Igreja. Amemos também os profetas, porque também eles anunciaram o Evangelho, eles que esperaram em Cristo; acreditando nele, foram salvos e, permanecendo unidos a Jesus Cristo, santos e dignos de amor e admiração, mereceram receber o testemunho de Jesus Cristo e ter lugar no Evangelho, nossa esperança comum. [...] 

Deus não habita onde reina a divisão e a contenda. Mas o Senhor perdoa a todos os que se arrependem, se o arrependimento os levar à união com Cristo, que nos libertará de toda a opressão. Suplico-vos que não ajais com espírito de querela, mas segundo os ensinamentos de Cristo. Ouvi que alguns de vós diziam: «Só acredito que esteja no Evangelho aquilo que encontro nos arquivos.» [...] Os meus arquivos são Cristo; os meus arquivos invioláveis são a cruz, a sua morte e a sua ressurreição, e a fé que vem dele. É daí que espero, com a ajuda das vossas orações, toda a minha justificação.

Fonte: Evangelho Cotidiano

terça-feira, 19 de abril de 2016

Querelas - João 6,60-69

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja 
Sermão 5 de de diversis 

«Também vós quereis ir embora?»


Como lemos no Evangelho, quando o Senhor pregava e convidava os discípulos a comerem o seu corpo no mistério eucarístico para participarem na sua Paixão, alguns exclamaram: «Estas palavras são duras»; e desde então deixaram de andar com Ele. Tendo perguntado, porém, aos discípulos se também eles se queriam ir embora, eles responderam: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.» 

Pois bem, irmãos, também em nossos dias as palavras de Jesus são espírito e vida para alguns, e esses seguem-No. Mas a outros as mesmas palavras parecem-lhes duras, e por isso procuram noutro lado uma triste consolação. No entanto, a Sabedoria continua a levantar a sua voz nas praças, advertindo aqueles que andam pelo caminho largo e espaçoso que conduz à morte (Mt 7,13), para que mudem o rumo dos seus passos. «Durante quarenta anos essa geração desgostou-Me, e Eu disse: "É um povo de coração transviado"» (Sl 94,10). Uma só vez falou Deus. Sim, uma só vez, porque Ele fala sempre; uma só vez, porque a sua fala é contínua e eterna e nunca se interrompe. 

Esta voz convida os pecadores a meditarem em seu coração, a corrigirem os pensamentos do seu coração, porque é a voz daquele que habita no coração do homem e aí fala. [...] Se hoje ouvirmos a sua voz, não endureçamos os nossos corações (Sl 94,8). São quase as mesmas palavras, as que lemos no Evangelho e no profeta. Efectivamente, diz o Senhor no Evangelho: «As minhas ovelhas ouvem a minha voz» (Jo 10,27). [...] «Ele é o nosso Deus e nós somos o seu povo, as ovelhas por Ele conduzidas. Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: "Não endureçais os vossos corações"» (Sl 94,7-8).

Fonte: Evangelho Cotidiano