quarta-feira, 11 de maio de 2016

A Oração - São Clemente de Alexandria

São Clemente de Alexandria (150-c. 215), teólogo 
«Stromata» 7,7


«Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.»


É nosso dever venerar e honrar Aquele que acreditamos ser o Verbo, nosso Salvador e nosso Senhor, e, por Ele, o Pai, não em certos dias especiais (tal como outros fazem) mas continuamente, durante toda a nossa vida e de todas as formas. «Sete vezes por dia cantei o teu louvor» (Sl 118,164), exclama o povo eleito. [...] Por isso, não é num lugar determinado, nem num templo escolhido, nem em certas festas ou em certos dias fixos, mas é durante toda a vida e em toda a parte que o homem verdadeiramente espiritual honra a Deus, isto é, dá graças por conhecer a verdadeira vida. 

A presença do homem de bem, pelo respeito que inspira, torna sempre melhor quem com ele convive. Quanto mais aquele que está continuamente na presença de Deus, pelo conhecimento, pela maneira de viver e pela acção de graças, se irá tornando cada dia melhor em tudo: acções, palavras e disposições! [...] Vivendo, pois, toda a nossa vida como uma festa, na certeza de que Deus está totalmente presente em toda a parte, trabalhamos cantando, navegamos ao som de hinos e comportamo-nos à maneira dos «cidadãos do céu» (Fl 3,20). 

A oração é, ouso dizê-lo, uma conversa íntima com Deus. Mesmo quando murmuramos suavemente, mesmo quando, sem mexer os lábios, falamos em silêncio, estamos a gritar interiormente. E Deus volta constantemente o seu ouvido para esta voz interior. [...] Sim, o homem verdadeiramente espiritual ora durante toda a sua vida, porque orar é para ele um esforço de união com Deus, e rejeita tudo o que é inútil porque atingiu aquele estado em que já recebeu, de certa maneira, a perfeição, que consiste em agir por amor. [...] Toda a sua vida é uma liturgia sagrada.

Fonte: Evangelho Cotidiano

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sobre a oração

Orígenes (c. 185-253), presbítero, teólogo 
A Oração, 31 
«Tudo quanto pedirdes em meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.»


Parece-me que quem se dispõe a orar deverá recolher-se e procurar preparar-se, para conseguir estar mais atento e concentrado durante a oração. Deve também afastar do seu pensamento a ansiedade e a perturbação, e esforçar-se por recordar a grandeza de Deus, de quem se aproxima, considerando que será ímpio apresentar-se na sua presença sem a necessária atenção, sem algum esforço, mas com uma espécie de ligeireza; deve, enfim, rejeitar pensamentos excêntricos. 

Ao começar a oração, devemos, digamos assim, apresentar a alma antes das mãos, erguer a Deus o espírito antes dos olhos, libertar o espírito da terra antes de o elevarmos para o oferecer ao Senhor do universo, enfim, depor quaisquer ressentimentos por ofensas que creiamos ter sofrido, se de facto desejamos que Deus esqueça o mal que cometemos contra Ele, contra os nossos semelhantes, ou contra a boa razão. 

Dado que podem ser muitas as atitudes do corpo, o gesto de erguer as mãos e os olhos aos céus deve claramente ser preferido a todos os outros, para assim exprimirmos no corpo a imagem das disposições da alma durante a oração [...], mas as circunstâncias podem por vezes levar-nos a rezar sentados [...] ou mesmo deitados [...]. Por seu turno, a oração de joelhos torna-se necessária sempre que acusamos os nossos pecados diante de Deus, e Lhe suplicamos que deles nos cure e nos absolva. Essa atitude é o símbolo da humilhação e da submissão de que fala Paulo, quando escreve: «É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, do qual recebe o nome toda a paternidade nos céus e na terra» (Ef 3,14-15). Trata-se da genuflexão espiritual, assim chamada porque todas as criaturas adoram a Deus no nome de Jesus a Ele se submetem humildemente. O apóstolo Paulo parece fazer uma alusão a isso quando diz: «Para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra» (Fil 2,10).

Fonte: Evangelho Cotidiano

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Fugi das querelas

Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo, mártir 
Carta aos naturais de Filadélfia 


«A obra de Deus consiste em acreditar naquele que Ele enviou.»


Vós, filhos da luz verdadeira, fugi das querelas e das más doutrinas. Como ovelhas, segui o vosso pastor. Porque muitas vezes os lobos aparentemente dignos de fé extraviam os que correm na corrida de Deus; mas, se permanecerdes unidos, eles não encontrarão lugar entre vós. 

Tende pois cuidado em participar numa única Eucaristia; não há, com efeito, senão uma só carne de Nosso Senhor, um só cálice para nos unir no seu sangue, um só altar, como não há senão um só bispo rodeado de presbíteros e de diáconos. Assim, tudo o que fizerdes, fá-lo-eis segundo Deus. [...] O meu refúgio é o Evangelho, que é para mim o próprio Jesus na carne, e os apóstolos, que incarnam o presbitério da Igreja. Amemos também os profetas, porque também eles anunciaram o Evangelho, eles que esperaram em Cristo; acreditando nele, foram salvos e, permanecendo unidos a Jesus Cristo, santos e dignos de amor e admiração, mereceram receber o testemunho de Jesus Cristo e ter lugar no Evangelho, nossa esperança comum. [...] 

Deus não habita onde reina a divisão e a contenda. Mas o Senhor perdoa a todos os que se arrependem, se o arrependimento os levar à união com Cristo, que nos libertará de toda a opressão. Suplico-vos que não ajais com espírito de querela, mas segundo os ensinamentos de Cristo. Ouvi que alguns de vós diziam: «Só acredito que esteja no Evangelho aquilo que encontro nos arquivos.» [...] Os meus arquivos são Cristo; os meus arquivos invioláveis são a cruz, a sua morte e a sua ressurreição, e a fé que vem dele. É daí que espero, com a ajuda das vossas orações, toda a minha justificação.

Fonte: Evangelho Cotidiano

terça-feira, 19 de abril de 2016

Querelas - João 6,60-69

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja 
Sermão 5 de de diversis 

«Também vós quereis ir embora?»


Como lemos no Evangelho, quando o Senhor pregava e convidava os discípulos a comerem o seu corpo no mistério eucarístico para participarem na sua Paixão, alguns exclamaram: «Estas palavras são duras»; e desde então deixaram de andar com Ele. Tendo perguntado, porém, aos discípulos se também eles se queriam ir embora, eles responderam: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.» 

Pois bem, irmãos, também em nossos dias as palavras de Jesus são espírito e vida para alguns, e esses seguem-No. Mas a outros as mesmas palavras parecem-lhes duras, e por isso procuram noutro lado uma triste consolação. No entanto, a Sabedoria continua a levantar a sua voz nas praças, advertindo aqueles que andam pelo caminho largo e espaçoso que conduz à morte (Mt 7,13), para que mudem o rumo dos seus passos. «Durante quarenta anos essa geração desgostou-Me, e Eu disse: "É um povo de coração transviado"» (Sl 94,10). Uma só vez falou Deus. Sim, uma só vez, porque Ele fala sempre; uma só vez, porque a sua fala é contínua e eterna e nunca se interrompe. 

Esta voz convida os pecadores a meditarem em seu coração, a corrigirem os pensamentos do seu coração, porque é a voz daquele que habita no coração do homem e aí fala. [...] Se hoje ouvirmos a sua voz, não endureçamos os nossos corações (Sl 94,8). São quase as mesmas palavras, as que lemos no Evangelho e no profeta. Efectivamente, diz o Senhor no Evangelho: «As minhas ovelhas ouvem a minha voz» (Jo 10,27). [...] «Ele é o nosso Deus e nós somos o seu povo, as ovelhas por Ele conduzidas. Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: "Não endureçais os vossos corações"» (Sl 94,7-8).

Fonte: Evangelho Cotidiano

domingo, 3 de janeiro de 2016

Caindo de joelhos, prostraram-se diante dele

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, 
bispo de Constantinopla, 
doutor da Igreja 
Homilias sobre S. Mateus 


Irmãos, sigamos os Magos, deixemos os nossos costumes pagãos. Partamos! Façamos uma longa viagem para ver a Cristo. Se os Magos não tivessem partido para longe do seu país, não teriam visto a Cristo. Abandonemos, nós também, os interesses deste mundo. Enquanto estavam no seu país, os Magos só viam a estrela; quando, porém, deixaram a sua pátria, viram o Sol da Justiça (Mal 3,20). Melhor dizendo: se não tivessem empreendido generosamente a sua viagem, nem sequer teriam visto a estrela. Levantemo-nos pois, também nós, e mesmo que todos se espantem em Jerusalém, corramos até ao local onde está o Menino. 

Entrando na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe; e, ajoelhando-se, prostraram-se diante dele; depois, abrindo os cofres, ofereceram-Lhe os seus presentes. Que motivo os levou a prostrarem-se diante desta criança? Nada havia de assinalável, nem na virgem, nem na casa; nem objecto algum capaz de ferir o olhar e de os atrair. E, contudo, não contentes com o facto de se terem prostrado, eles abriram os seus tesouros, presentes que não se oferecem a um homem, mas apenas a Deus, pois o incenso e a mirra simbolizam a divindade. Que razão os levou a agir dessa forma? A mesma que os levara a abandonar a sua pátria, a fazer essa longa viagem. Foi a estrela, quer dizer, a luz com que Deus enchera o seu coração, que os conduziu, pouco a pouco, a um conhecimento mais perfeito. Se não tivessem tido essa luz, como poderiam ter prestado tais homenagens, se aquilo que viam era tão pobre e tão humilde? Se ali não há grandeza material, mas apenas uma manjedoura, um estábulo, uma mulher que nada tem, é para que vejas mais nitidamente a sabedoria dos Magos, para que compreendas que eles não vieram ver um homem, mas adorar a Deus, seu benfeitor.


Fonte: Evangelho Cotidiano

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Servindo a Deus noite e dia

São Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir Sobre o Pai-Nosso 


Nas Sagradas Escrituras, o verdadeiro sol e o verdadeiro dia é Cristo; é por isso que para os cristãos nenhuma hora é excluída, e há que adorar a Deus sempre e sem cessar. Porque estamos em Cristo, quer dizer, na luz verdadeira, estejamos em súplica e em oração ao longo de todo o dia. E quando, segundo o curso do tempo, chega a noite após o dia, nada nos impeça, nas trevas nocturnas, de orar: para os filhos da luz (1Tim 5,5), é dia mesmo durante a noite. Quem tem a luz no seu coração nunca se encontra nas trevas. Para aquele para quem Cristo é o sol e o dia, o sol nunca se oculta nem o dia deixa de estar presente. 

Durante a noite não deixemos pois de rezar. Foi assim que Ana, a viúva, obteve os favores de Deus: pela sua oração perseverante e a vigília, como está escrito no Evangelho: «Não se afastava do Templo, servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações» […] Que a preguiça e o desleixo não nos impeçam de rezar. Pela misericórdia de Deus, fomos recreados no Espírito e renascemos. Imitemos pois o que seremos. Fomos feitos para habitar num reino onde não haverá mais noite, onde brilhará um dia sem ocaso; vigiemos pois já durante a noite como se fosse dia claro. Chamados à oração e a dar, no céu, graças sem fim a Deus, comecemos já aqui em baixo a rezar e a dar-Lhe graças sem cessar.

Fonte: Evangelho Cotidiano

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

S. José, esposo de Maria, pai adoptivo de Jesus, patrono da Igreja

Beato Pio IX (1792-1878), papa 
Decreto “Urbi et Orbi” de 8 de Dezembro de 1870 


Tal como Deus estabeleceu o Patriarca José, filho de Jacob, governador de todo o Egipto, para assegurar ao povo o alimento necessário à vida (Gn 41,40s), da mesma forma, quando se cumpriram os tempos em que ia enviar o seu Filho único para resgatar o mundo, o Eterno escolheu um outro José, do qual o primeiro era a figura, estabeleceu-o príncipe e senhor da sua casa e dos seus bens, e confiou-lhe a guarda dos seus mais preciosos tesouros. Com efeito, José desposou a imaculada Virgem Maria, da qual, pelo poder do Espírito Santo, nasceu Jesus Cristo, que quis passar aos olhos de todos por filho de José e Se dignou ser-lhe submisso. José não só viu Aquele que tantos profetas e reis tinham desejado ver (Lc 10, 24), como conversou com Ele, apertou-O nos braços com particular ternura, cobriu-O de beijos. Com um cuidado cheio de zelo e uma solicitude sem igual, alimentou Aquele que os fiéis haviam de comer como pão da vida eterna. 

Em virtude desta dignidade sublime a que Deus elevou o seu servo fiel, sempre a Igreja exaltou e honrou S. José com um culto excepcional, ainda que inferior ao que presta à Mãe de Deus, e sempre implorou a sua assistência nas horas críticas. [...] Por isso, declaramos solenemente S. José Patrono da Igreja Católica.

Fonte: Evangelho Cotidiano

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A violência que se apodera do Reino

Isaac o Sírio (século VII), monge perto de Mossul 
Discursos ascéticos, 1.ª série, n.º 19 


Que mais nada te impeça de te unires a Cristo. [...] Reza sem esperares, suplica de todo o coração, pede ardentemente, até que recebas. Não abrandes. Essas coisas ser-te-ão dadas se, com toda a tua fé, te obrigares a confiar a Deus a tua preocupação e substituíres a tua previdência pela providência de Deus. Quando Ele vir a tua vontade, quando Ele vir que, em total pureza de coração, confias mais nele que em ti próprio e te obrigas a esperar mais nele que nas tuas forças, então este poder que desconheces virá fazer em ti a sua morada. E sentirás em todos os teus sentidos o poder daquele que está incontestavelmente contigo. Graças a este poder, muitos entram no fogo e não temem, caminham sobre as águas e não hesitam.


Fonte: Evangelho Cotidiano