quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Chesterton e os historiadores


“Os historiadores sérios vão deixando de lado a ideia absurda de a Igreja medieval ter perseguido todos os homens de ciência como feiticeiros, o que está muito próximo de ser o contrário da verdade. Se o mundo algumas vezes os perseguiu como a feiticeiros, outras vezes, de maneira oposta, os seguiu por feiticeiros. Só a Igreja os considerava, real e unicamente, homens de ciência. Muitos clérigos investigadores foram acusados de magia por fabricar lentes e espelhos; acusavam-nos os seus vizinhos rudes e rústicos, e naturalmente teriam sido acusados igualmente se os vizinhos fossem pagãos, puritanos ou adventistas do sétimo dia. Mas até neste caso eles teriam mais sorte em ser julgados pelo papado do que se fossem simplesmente linchados pelos leigos”

CHESTERTON, G.K. Santo Tomás de Aquino: biografia. Tradução de Carlos Ancêde Nougué. São Paulo: Ltr, 2003. p. 64-65.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Santo Agostinho e o amor ao inimigo


«Prefiro a misericórdia»
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja 

Comentário sobre a primeira carta de João, § 8,10


Ao amar o teu inimigo, desejas que ele seja para ti um irmão. Não amas o que ele é, mas aquilo em que queres que ele se torne. Imaginemos um pedaço de madeira de carvalho em bruto. Um artesão hábil vê essa madeira, cortada na floresta; a madeira agrada-lhe; não sei o que ele quer fazer dela, mas não é para a deixar como está que o artista gosta dela. A sua arte faz com que veja em que é que se pode transformar essa madeira; o seu amor não é dirigido à madeira em bruto; ele ama o que fará com ela e não a madeira em bruto.

Foi assim que Deus nos amou quando éramos pecadores. Na verdade, Ele disse: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes». Ter-nos-ia Ele amado pecadores para que permanecêssemos pecadores? O Artesão viu-nos como um pedaço de madeira em bruto, vindo da floresta, e o que tinha em vista era a obra que nela faria, não a madeira em si, nem a floresta.

Contigo passa-se a mesma coisa: vês o teu inimigo opor-se-te, encher-te de palavras mordazes, tornar-se rude nas afrontas que te faz, perseguir-te com o seu ódio. Mas tu estás atento ao facto de ele ser um homem. Vês tudo o que esse homem fez contra ti, mas também vês nele aquilo que foi feito por Deus. Aquilo que ele é, enquanto homem, é obra de Deus; o ódio que te tem é obra dele. E que dizes tu para contigo? «Senhor sê benevolente para com ele, perdoa-lhe os pecados, inspira-lhe o Teu temor, converte-o.» Não amas nesse homem aquilo que ele é, mas aquilo que queres que ele venha a ser. Assim, quando amas um inimigo, amas nele um irmão.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A Democracia é uma quimera.

"Para serem legítimas as bases da Democracia, seria indispensável que existissem a Igualdade, a Liberdade, a Fraternidade, cuja célebre trilogia a Revolução Francesa escolheu para lema. São os homens iguais? Ninguém ousará afirmá-lo. Uns, são mais fortes, mais trabalhadores, mais económicos, mais inteligentes que outros. Decretar a igualdade absoluta, é esquecer uma inflexível lei natural – que justifica as aspirações de todos os que se querem distinguir, conquistar um nome, uma fortuna, uma posição de comando. Liberdade absoluta – não há, também, entre os homens. Presos às cadeias familiares, às dependências sociais, às regras morais que adoptaram, às carreiras que escolheram – os homens não são nunca inteiramente livres, nem podem sê-lo. Quanto à Fraternidade, olhe-se a História, desde o início do mundo; descobre-se uma sucessão de lutas, de crimes, de conflitos... A Fraternidade é uma bela aspiração. Nada mais. Logo, a Democracia, supondo a Igualdade, a Liberdade, a Fraternidade – é uma quimera."

João Ameal em Integralismo Lusitano - Estudos Portugueses.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Santíssimo Nome de Maria


DO MISTERIOSÍSSIMO, EFICACÍSSIMO, E DULCÍSSIMO NOME DE MARIA

Foi imposto este nome à Senhora não casualmente ou por arbítrio humano, senão (como dizem os Santos) por disposição divina e instinto do Espírito Santo; e por ventura foi anunciado à S. Ana por algum Anjo, como foi o do Precursor a seu pai Zacarias. Considera, pois, neste nome, as suas significações. 

Quanto às significações, tocaremos só em três das mais principais. A primeira é que Maria, na língua Síria (que era a mais usada naquele tempo em Palestina), quer dizer Senhora. O que bem quadra este nome à Virgem, pois é Senhora absoluta, soberana e pacífica de todas as criaturas no Céu, na terra e debaixo da terra! Os mais sublimes Serafins, aquelas essências mais puras, que servem de lugares à presença de Deus, iluminam, reconhecem, e adoram a esta Princesa; as nações, os reinos e os impérios dependem do seu aceno e favor, tremem da sua ausência e desvio.

Outra significação do nome MARIA na língua hebraica é Estrela do mar; e com este apelido a invoca a Igreja: Ave Maris Stella. Também lhe vem mui próprio, por estrela, e estrela do mar. Por estrela primeiramente: porque a estrela, sem diminuição sua, nos produz o raio luminoso e a Virgem, permanecendo Virgem, nos gerou Cristo, que é luz do mundo. Além disso, porque as estrelas presidem às trevas da noite; e a Virgem é refúgio de pecadores, em que ainda não reina o Sol da graça.

A terceira significação, e de todas a mais própria e digna, é, conforme diz S. Ambrósio, MARIA, isto é, Deus da minha geração. Ó imensa glória! Ó altíssima dignidade! Ó ventura imponderável! Senhora, Deus de vossa geração! O que tudo criou ser de ti gerado! O que gerou o Eterno Pai ab æterno, antes de todos os séculos, nos geraste por obra do Espírito Santo, no meio dos séculos! Maravilhosa definição encerram cinco só letras do nome MARIA; idest Deus ex genere meo. 

Pe. Manuel Bernardes

domingo, 9 de setembro de 2012

A INTELIGÊNCIA E O BOM-SENSO SÃO ARISTOCRÁTICOS (NÃO RARO, A POPULARIZAÇÃO ASSUME CORES DE BANALIZAÇÃO E O EFÊMERO É ELEVADO AO NÍVEL DO VALOR)

Desabafo do amigo Paulo Henrique Cremoneze no Facebook. Sintetiza e exterioriza a indignação de muitos  católicos que como ele, são  também escrachados, perseguidos, caluniados por relativistas, marxistas, politicamente corretos, etc., no mundo virtual (e real) por simplesmente exporem sua Fé.

Impressionante o excesso de sensibilidade que ronda o FB. Aliás, com perdão por aparente esnobismo, o FB anda muito Orkut para o meu gosto. Basta publicar algo que diga respeito à defesa da honra, da moral, da tradição, dos valores em geral e uma saraivada de críticas é disparada com raiva canina.

O patrulhamento ideológico dos partidários do relativismo moral é sufocante, opressivo, cáustico. Se a publicação for relativa à Igreja Católica, pior ainda. E se for a respeito do santo Padre, o Papa Bento XVI, então é um "Deus-nos-acuda". Publiquei algo voltado aos católicos, elogiando a qualidade de Bento XVI como teólogo, nada além, nada aquém, mesmo assim o caos se fez presente por meio de vários comentários infelizes. 

Haja paciência, haja bondade e haja misericórdia. Não foi uma publicação sobre o Papa defendendo a liturgia, as tradições da Igreja, a família tradicional, etc., enfim, não tratava de assunto sensível algum. Uma mera publicação elogiando-o como teólogo, só isso. Aí surge um e diz que o pensamento teológico do Papa não tem validade porque muito influenciado pela doutrina da Igreja Católica.... dá para acreditar!!!!!????????? Ele é o Papa, chefe de estado e chefe de governo da cidade do Estado do Vaticano, um estado teocrático e é o líder espiritual de quase dois bilhões de católicos de todo o mundo... sua teologia há de ser inspirada em que doutrina religiosa? A xintoísta? A hindu? A mulçumana? Ora, por favor... o pior é que quem fez tal afirmação NUNCA se deu ao trabalho de ler um artigo sequer do Papa, quiçá uma obra (um Papa que é estimado por intelectuais protestantes e judeus) e se põe a falar o que não sabe. E tanto não sabe que o Papa conhece muito sobre outras religiões, talvez mais que a maioria dos seus próprios partidários. É um defensor do diálogo ecumênico, sem perdas de identidades, e do diálogo inter-religioso. Seu melhor amigo fora dos meios eclesiais, aliás, é um teólogo luterano, famoso professor universitário alemão.

Mas, segundo o sujeito em questão, o Papa é intolerante e, pasmem, muito católico. Pergunto novamente, dá para acreditar? Depois, surge outro, completamente alucinado, que efetivamente não leu o que de fato escrevi nos comentários, e desfere agressões gratuitas à mim e a Santa Igreja, fazendo uso de toda sorte de adjetivos indecorosos e levianos, e sentindo-se autorizado a fazer uma rota e puída análise psicológica a meu respeito. Não, não dá para ser manso e humilde com um sujeito assim, desqualificado em todos os sentidos. 

Sei que a minha afirmação não é nada cristã, mas reconheço que preciso e muito melhorar no caminho rumo à santidade de vida. Por enquanto, o simples fato de apenas bloquear o pobre coitado já foi muito para mim. Segurar a mão e escrever o que senti vontade de escrever foi uma vitória monumental. Talvez a inveja o tenha instigado a agredir tanto. Pois é, as pessoas agem por inocência, impulso jocoso, ignorância e às vezes por má-fé. 

Todo o mundo tem o direito de opinar e todo o mundo pode estar certo ou errado. Eu já errei, já fui agressivo, já me retratei. Não fui, contudo, leviano em momento algum. Não é a contenda que me irrita, tampouco o debate. Não tenho melindres e agüento pancadas, algumas até merecidas, numa análise sincera de consciência. E quem escreve, quem se expõe está sujeito a isso mesmo. Não reclamo disso e não é essa a essência deste meu desabafo. 

O que me irrita é a má-fé, a vulgarização ou a marmorização da inteligência. Quem não sabe ler, o chamado analfabeto funcional, não pode opinar. Tem que ficar quieto, instruir-se mais ou, aceitando sua mediocridade, esforçar-se para melhorar. É um fato que muito aproveita quem o leva em conta: não se deve opinar sobre o que não se sabe, muito menos atacar com base em falsas premissas e deformação da verdade. 

O falecido cardeal Álvaro Portillo, um elegante sacerdote espanhol, disse que a pior mentira é uma meia-verdade. Pois é.... nessa esteira, ouso afirmar, correndo o risco de ser indevidamente interpretado, que existem espaços onde a tal “democratização” se transforma em banalização.... pode ser pedante o que afirmarei agora, mas a aristocracia do bom-senso precisa ocupar espaços, urgentemente. Afinal, o Deus que é amor, Jesus, que deu a vida na cruz, foi claro e taxativo, como nos mostra a santa Bíblia: não devemos atirar pérolas aos porcos.... estou cansado, enfatizo, cansado de tanta coisa sem sentido... viva o Brasil “socialista”, o que eleva o efêmero ao nível do valor.... vivemos tempos, como disse Pondé, de “churrasco na laje” e eu ouso acrescentar: “rodas de pagode e festas ao som de música sertaneja, bermudões e chinelos, o Brasil da vulgaridade, o Brasil das telenovelas como fontes culturais, o Brasil do falso intelectualismo, do pensamento comum, vulgar, medíocre, dos líderes semi-alfabetizados ou guerrilheiros, dos mensaleiros, dos universitários usuários de drogas e vestidos com camisetas do Che Guevara, o Brasil em que uma “Paulo Coelhada” tem mais valor do que a doutrina de um pensador, um filósofo, um homem compromissado com a verdade, seja no meio religioso, seja no meio social em geral”. 

Às vezes penso em me calar, recolher-me, afinal, modéstia à parte, dentro do um microuniverso, ainda que periférico, tenho um nome e uma imagem a zelar, mas o silêncio, o silêncio referente ao bom combate, não é o meu estilo e ele seria subconscientemente interpretado como covardia, recuo não estratégico, mas acomodamento puro. Por isso, vencido este desabafo, seguirei adiante, rezando pelas almas dos opositores, claro, mas com um porrete na mão DIREITA à espera, pois é marcial isso, “ao inimigo com sede no deserto, areia goela abaixo”.

Paulo Henrique Cremoneze