sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Santo Agostinho e o amor ao inimigo


«Prefiro a misericórdia»
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja 

Comentário sobre a primeira carta de João, § 8,10


Ao amar o teu inimigo, desejas que ele seja para ti um irmão. Não amas o que ele é, mas aquilo em que queres que ele se torne. Imaginemos um pedaço de madeira de carvalho em bruto. Um artesão hábil vê essa madeira, cortada na floresta; a madeira agrada-lhe; não sei o que ele quer fazer dela, mas não é para a deixar como está que o artista gosta dela. A sua arte faz com que veja em que é que se pode transformar essa madeira; o seu amor não é dirigido à madeira em bruto; ele ama o que fará com ela e não a madeira em bruto.

Foi assim que Deus nos amou quando éramos pecadores. Na verdade, Ele disse: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes». Ter-nos-ia Ele amado pecadores para que permanecêssemos pecadores? O Artesão viu-nos como um pedaço de madeira em bruto, vindo da floresta, e o que tinha em vista era a obra que nela faria, não a madeira em si, nem a floresta.

Contigo passa-se a mesma coisa: vês o teu inimigo opor-se-te, encher-te de palavras mordazes, tornar-se rude nas afrontas que te faz, perseguir-te com o seu ódio. Mas tu estás atento ao facto de ele ser um homem. Vês tudo o que esse homem fez contra ti, mas também vês nele aquilo que foi feito por Deus. Aquilo que ele é, enquanto homem, é obra de Deus; o ódio que te tem é obra dele. E que dizes tu para contigo? «Senhor sê benevolente para com ele, perdoa-lhe os pecados, inspira-lhe o Teu temor, converte-o.» Não amas nesse homem aquilo que ele é, mas aquilo que queres que ele venha a ser. Assim, quando amas um inimigo, amas nele um irmão.

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