quarta-feira, 16 de março de 2011

Quem não participa de pastoral é menos católico?

Com a palavra o Cardeal J. Ratzinger:

"A libertação fundamental que a Igreja nos pode oferecer consiste em nos manter dentro do horizonte do eterno e em fazer-nos sair dos limites de nosso saber e poder. Por isso, a própria fé, em toda a sua grandeza e amplitude, é sempre a reforma essencial de que precisamos. É sempre a partir dela que devemos reexaminar as estruturas humanas que se constituíram dentro da Igreja. Isto significa que a Igreja deve ser a ponte da fé e não pode, principalmente na vida de suas associações dentro do mundo, colocar-se como um fim em si mesma. Encontramos, aqui e ali, mesmo em altos circulos eclesiásticos, a idéia de que uma pessoa é tanto mais cristã quanto mais se envolve em atividades eclesiásticas. Pratica-se uma espécie de terapia ocupacional eclesiástica. Para cada um arranja-se uma comissão ou, de qualquer modo, uma função dentro da Igreja. Fazem crer que sempre se deve falar da Igreja ou fazer alguma coisa que diga respeito a ela. Mas um espelho que só reflete a si mesmo não é mais um espelho. Uma janela que não deixa o olhar abrir-se livremente, mas se interpõe como um obstáculo entre o observador e a paisagem, não tem razão de existir. Pode acontecer que uma pessoa exerça ininterruptamente atividades dentro das associações eclesiásticas e, no entanto, não ser cristã. Pode ocorrer que alguém viva da Palavra e dos sacramentos e pratique o amor que vem da fé, sem jamais ter sido visto em associações eclesiásticas, sem se ter ocupado com novidades da política eclesiástica, sem ter participado de sínodos e ter votado neles, e, no entanto, ser um verdadeiro cristão. Não precisamos de uma Igreja mais humana; precisamos de uma Igreja mais divina, que será então realmente humana. E por isso tudo o que é feito pelo homem dentro da Igreja deve ser visto em seu caráter de puro serviço, subordinado ao essencial."

Fonte: Ratzinger, Cardeal J.Compreender a Igreja hoje - Vocação para a comunhão. Petrópolis: Vozes, 2006. 81 p.

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