Por Rafael Vitola Brodbeck
Retiro a expressão que dá título a este artigo do equivalente assinado pelo senador Gilberto Amado, sob o título “O Brasil e a renascença católica”, publicado em 1930. Na ocasião, o ilustre político, que já exaltara as qualidades intelectuais de outros católicos, como o leigo Carlos de Laet e o Cardeal Arcoverde, punha-se a tecer a elegia de Alceu de Amoroso Lima, o “Tristão de Ataíde”.
De fato, ao contrário do que propugnam os anticlericais – tomada a palavra em sua pior acepção –, nunca se opôs a Igreja ao fomento da cultura, da ciência e das artes. Não são seus templos redutos exclusivos de beatas, senhoras piedosas, e homens iletrados. É católica a Igreja, i.e., universal, acolhendo todas as almas, das mais variadas colorações sociais, étnicas e circunstanciais.
Desde seu surgimento, justificou, como pedira o apóstolo São Pedro, as razões de sua esperança. Explicou-se aos romanos perseguidores, desfez os equívocos da heresia – “a verdade que enlouqueceu”, no dizer de Chesterton –, alcançou os simples e os poetas, os analfabetos e os filósofos. Deu-nos gigantes da têmpera de um Jerônimo, de um Irineu, de um Crisóstomo, de um Atanásio e de um Agostinho. Forjou, em Santo Tomás de Aquino, o diálogo perfeito entre as letras clássicas, sobretudo de Aristóteles, e o Evangelho. E legou-nos, dos escombros do Império dilacerado pelos bárbaros – que ela converterá depois, começando pelos francos de Clóvis e Clotilde –, a civilização que não se envergonhou de chamar-se "Cristandade".
Quando se dá conta dessa verdade, o laicista enfurece. Nem todos os Richard Dawkins juntos poderão negar a evidência de que a Igreja de Cristo não só não se opôs ao desenvolvimento humano, científico e literário, como o incentivou positivamente. Mais do que isso: o pensamento cristão é, como direi, uma causa do método científico. Ao conceber um Deus Criador que rege o mundo por leis imutáveis dispostas em sua sabedoria, e não pelo mito ou pelo acaso, põe-se o pensador impregnado de cristianismo a perscrutar essas leis. Daí a física, a biologia, a química, vindas, é claro, do legado helênico - não por acaso, o menos mitológico e o mais próximo, entre os filósofos, da idéia cristã de divindade -, porém elevadas a um patamar talvez impossível sem a fé. O Deus cristão assume a natureza humana, encarna-se, e suas leis passam a ser objeto de estudo. A própria moralidade do bem supremo que é Deus converte-se em paradigma de um novo Direito, que mescla a cientificidade do latino com a humanidade evangélica.
O incremento das modernas técnicas agronômicas cooube aos monges beneditinos e cistercienses, que transformaram lodos e pântanos em locais de pastagem e agricultura, criando mosteiros sustentáveis. As noções de liberdade e moral em economia são fruto dos neoescolásticos de Salamanca. E o Direito Internacional é cria de padres católicos: Francisco Suárez, Francisco de Vitória, Bartolomeu de las Casas.
Contra isso, o laicista se levanta. Pode tolerar a senhora, com seu véu negro, desfiando as contas de seu rosário na igreja à meia-luz. Rasga suas vestes de pavor, entretanto, ao deparar-se com o já citado Chesterton, ou a descobrir que Pascal era cristão - embora jansenista. Quando percebe que Pasteur era católico e devoto, sua ira se intensifica. É-lhe impossível reconhecer, sem rubor ou violência, a profunda fé de inúmeros responsáveis pelo incremento da ciência - além dos referidos Pascal e Pasteur, Mendel, Copérnico, Jerôme Lejeune, descobridor da origem genética da Síndrome de Down e que está em processo de beatificação, Georges Lemâitre, padre que propôs o que viria a ser a Teoria do Big Bang (provando que ciência e relato bíblico não são excludentes), Pierre Pérignon (sim, o inventor do espumante era monge), Landell de Moura, padre gaúcho que inventou o rádio. Descobrindo o catolicismo de intelectuais do calibre do historiador Christopher Dawson, do escritor J.R.R. Tolkien, autor da monumental saga de "O Senhor dos Anéis", do economista Thomas Woods, do arquiteto Gaudí (que logo será beatificado), da medievalista francesa Régine Pernoud, ou dos grandes pensadores convertidos Cardeal Newman, Marcel de Corte, Dietrich von Hildebrand, Hilaire Belloc, Paul Claudel, Jacques e Raíssa Maritain, Santa Edith Stein, ou um cineasta de sucesso como Mel Gibson, não pode o inimigo da religião ficar impune em seu erro.
O Brasil não foge a tão robusta tradição. Herdou de Camões, o pai da última flor do lácio, que insculpiu em seus Lusíadas, a mais varonil fé católica e uma impactante devoção à Cruz e ao Cristo, a formação cristã de seus intelectuais. Daí que nos honremos da fibra de Dom Vital, mártir branco no regime do padroado, a pena polêmica e sagaz de Laet, Arcoverde, Eduardo Prado, Joaquim Nabuco (o patriarca da abolição), Felício dos Santos, João Gualberto (que refutou magristralmente as tresloucadas teses criminológicas lombrosianas), Júlio Maria, Dom Macedo Costa. Daí o orgulho por Jackson de Figueiredo, por Amoroso Lima, por Leonel Franca, pelo gênio Gustavo Corção, por Maurílio Teixeira-Leite Penido, o grande comentador de Pio XII. Daí a figura ímpar, ainda que por muitos incompreendida, de Plínio Corrêa de Oliveira. Daí a liderança do Cardeal Leme.
Leigos e padres não se furtaram a dar sua contribuição à humanidade. Espiritual e temporal. Tal qual o homem, que não é alma penada, tampouco um cadáver ambulante.
Rafael Vitola Brodbeck, casado e pai de família, é Delegado de Polícia no Rio Grande do Sul, e coordena o Salvem a Liturgia, sendo responsável nesse site pelos textos sobre erros litúrgicos, incentivo ao latim, e comentários sobre rubricas e normas. É membro da Sociedade Internacional Santo Tomás de Aquino (SITA/Roma), e da Academia Marial de Aparecida. Desde 1998, é incorporado ao Regnum Christi. Ministra palestras sobre temas litúrgicos e doutrinários
Retiro a expressão que dá título a este artigo do equivalente assinado pelo senador Gilberto Amado, sob o título “O Brasil e a renascença católica”, publicado em 1930. Na ocasião, o ilustre político, que já exaltara as qualidades intelectuais de outros católicos, como o leigo Carlos de Laet e o Cardeal Arcoverde, punha-se a tecer a elegia de Alceu de Amoroso Lima, o “Tristão de Ataíde”.
De fato, ao contrário do que propugnam os anticlericais – tomada a palavra em sua pior acepção –, nunca se opôs a Igreja ao fomento da cultura, da ciência e das artes. Não são seus templos redutos exclusivos de beatas, senhoras piedosas, e homens iletrados. É católica a Igreja, i.e., universal, acolhendo todas as almas, das mais variadas colorações sociais, étnicas e circunstanciais.
Desde seu surgimento, justificou, como pedira o apóstolo São Pedro, as razões de sua esperança. Explicou-se aos romanos perseguidores, desfez os equívocos da heresia – “a verdade que enlouqueceu”, no dizer de Chesterton –, alcançou os simples e os poetas, os analfabetos e os filósofos. Deu-nos gigantes da têmpera de um Jerônimo, de um Irineu, de um Crisóstomo, de um Atanásio e de um Agostinho. Forjou, em Santo Tomás de Aquino, o diálogo perfeito entre as letras clássicas, sobretudo de Aristóteles, e o Evangelho. E legou-nos, dos escombros do Império dilacerado pelos bárbaros – que ela converterá depois, começando pelos francos de Clóvis e Clotilde –, a civilização que não se envergonhou de chamar-se "Cristandade".
Quando se dá conta dessa verdade, o laicista enfurece. Nem todos os Richard Dawkins juntos poderão negar a evidência de que a Igreja de Cristo não só não se opôs ao desenvolvimento humano, científico e literário, como o incentivou positivamente. Mais do que isso: o pensamento cristão é, como direi, uma causa do método científico. Ao conceber um Deus Criador que rege o mundo por leis imutáveis dispostas em sua sabedoria, e não pelo mito ou pelo acaso, põe-se o pensador impregnado de cristianismo a perscrutar essas leis. Daí a física, a biologia, a química, vindas, é claro, do legado helênico - não por acaso, o menos mitológico e o mais próximo, entre os filósofos, da idéia cristã de divindade -, porém elevadas a um patamar talvez impossível sem a fé. O Deus cristão assume a natureza humana, encarna-se, e suas leis passam a ser objeto de estudo. A própria moralidade do bem supremo que é Deus converte-se em paradigma de um novo Direito, que mescla a cientificidade do latino com a humanidade evangélica.
O incremento das modernas técnicas agronômicas cooube aos monges beneditinos e cistercienses, que transformaram lodos e pântanos em locais de pastagem e agricultura, criando mosteiros sustentáveis. As noções de liberdade e moral em economia são fruto dos neoescolásticos de Salamanca. E o Direito Internacional é cria de padres católicos: Francisco Suárez, Francisco de Vitória, Bartolomeu de las Casas.
Contra isso, o laicista se levanta. Pode tolerar a senhora, com seu véu negro, desfiando as contas de seu rosário na igreja à meia-luz. Rasga suas vestes de pavor, entretanto, ao deparar-se com o já citado Chesterton, ou a descobrir que Pascal era cristão - embora jansenista. Quando percebe que Pasteur era católico e devoto, sua ira se intensifica. É-lhe impossível reconhecer, sem rubor ou violência, a profunda fé de inúmeros responsáveis pelo incremento da ciência - além dos referidos Pascal e Pasteur, Mendel, Copérnico, Jerôme Lejeune, descobridor da origem genética da Síndrome de Down e que está em processo de beatificação, Georges Lemâitre, padre que propôs o que viria a ser a Teoria do Big Bang (provando que ciência e relato bíblico não são excludentes), Pierre Pérignon (sim, o inventor do espumante era monge), Landell de Moura, padre gaúcho que inventou o rádio. Descobrindo o catolicismo de intelectuais do calibre do historiador Christopher Dawson, do escritor J.R.R. Tolkien, autor da monumental saga de "O Senhor dos Anéis", do economista Thomas Woods, do arquiteto Gaudí (que logo será beatificado), da medievalista francesa Régine Pernoud, ou dos grandes pensadores convertidos Cardeal Newman, Marcel de Corte, Dietrich von Hildebrand, Hilaire Belloc, Paul Claudel, Jacques e Raíssa Maritain, Santa Edith Stein, ou um cineasta de sucesso como Mel Gibson, não pode o inimigo da religião ficar impune em seu erro.
O Brasil não foge a tão robusta tradição. Herdou de Camões, o pai da última flor do lácio, que insculpiu em seus Lusíadas, a mais varonil fé católica e uma impactante devoção à Cruz e ao Cristo, a formação cristã de seus intelectuais. Daí que nos honremos da fibra de Dom Vital, mártir branco no regime do padroado, a pena polêmica e sagaz de Laet, Arcoverde, Eduardo Prado, Joaquim Nabuco (o patriarca da abolição), Felício dos Santos, João Gualberto (que refutou magristralmente as tresloucadas teses criminológicas lombrosianas), Júlio Maria, Dom Macedo Costa. Daí o orgulho por Jackson de Figueiredo, por Amoroso Lima, por Leonel Franca, pelo gênio Gustavo Corção, por Maurílio Teixeira-Leite Penido, o grande comentador de Pio XII. Daí a figura ímpar, ainda que por muitos incompreendida, de Plínio Corrêa de Oliveira. Daí a liderança do Cardeal Leme.
Leigos e padres não se furtaram a dar sua contribuição à humanidade. Espiritual e temporal. Tal qual o homem, que não é alma penada, tampouco um cadáver ambulante.
Rafael Vitola Brodbeck, casado e pai de família, é Delegado de Polícia no Rio Grande do Sul, e coordena o Salvem a Liturgia, sendo responsável nesse site pelos textos sobre erros litúrgicos, incentivo ao latim, e comentários sobre rubricas e normas. É membro da Sociedade Internacional Santo Tomás de Aquino (SITA/Roma), e da Academia Marial de Aparecida. Desde 1998, é incorporado ao Regnum Christi. Ministra palestras sobre temas litúrgicos e doutrinários
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